sexta-feira, maio 02, 2014 | | By: Luis Ventura

+ Esporte e Copa do Mundo FIFA Brasil 2014 no país do Futebol - Capítulo 4 (parte 1)



Inicia-se aqui o quarto capitulo de nossa viagem pela Copa do Mundo. Nesta edição, nosso destaque fica para a Copa de 70, uma das melhores da história, os artilheiros, as seleções africanas e um passeio pela sede do norte do Brasil. Venha conosco pois nossa viagem de hoje só está começando.

A nona Copa do Mundo: México 1970


México e Argentina se candidataram para receber a sede da nona Copa do Mundo. Em 1964, durante as olímpiadas de Tóquio, a FIFA definiu os mexicanos como sede, tirando a Copa pela primeira vez do eixo América do Sul-Europa.

Para a escolha a FIFA levou em consideração o fato da capital do México receber dois anos antes os Jogos Olímpicos. Os argentinos teriam que aguardar mais um pouco para receber o Mundial.
Em campo, para muito, este foi o melhor mundial de todos os tempos, pela qualidade dos jogadores e pela emoção das partidas.

Atual campeã, a Inglaterra era o time a ser batido e também o mais odiado pela torcida mexicana. Temendo alguma contaminação alimentar por parte dos jogadores, já que naquela época, era comum pessoas de outros países serem comedidos pelo Mal de Montezuma, os ingleses levaram sua própria água e comida, causando a ira dos torcedores locais.

Já o Brasil, após a fracassada atuação na Copa de 1966, reviu seus conceitos. Sem saber qual era a melhor estratégia de preparação do time, a seleção teve vários técnicos entre 66 e 70. Primeiro foi Aymoré Moreira, depois Osvaldo Brandão, o melhor do momento, e por último Zagallo, mas os resultados não vieram.

Pouco antes das eliminatórias, João Havelange nomeia João Saldanha como técnico da seleção. Saldanha era jornalista e o impacto foi o mesmo de, nos dias atuais, a CBF nomear Paulo Vinícius Coelho, o PVC, como técnico.

João Saldanha
 Logo na sua primeira entrevista, Saldanha anunciou seus 11 titulares (mesmo sem realizar qualquer treino). Eram as Feras de Saldanha.

Nas eliminatórias, foram 6 jogos e seis vitórias. A seleção parecia ter tomado o rumo. Mas em 1968, os militares assumiram o poder no Brasil, instituindo a ditadura, através do AI-5. E João Saldanha, considerado comunista pelos militares, não era bem visto por eles. Mas os resultados do campo não permitiam a demissão dele. Eis que num belo dia surge o que os militares precisavam para pedir a cabeça dela: uma briga com Yustrich, técnico do Flamengo, chegando até a sacar um revolver.

Com Saldanha fora, entrou Zagallo novamente. O estilo rígido dos militares acabou sendo positivo para preparação da seleção brasileira. Assim com em 58 e 62, a seleção se reuniu com antecedência e viajou para o México bem antes de todos, a fim de se preparar para lidar contra o calor e a altitude. Na chegada, Zagallo soltou a célebre frase, que pareceu muito pretenciosa na ocasião: “Somos os primeiros a chegar e seremos os últimos a ir embora”.

O único problema de Zagallo era para montar a ataque titular. Pelé, já autor de 1000 gols na carreira, era o camisa 10 incontestável da seleção. Porém, para a mesma posição haviam jogadores do mesmo quilate, como Rivellino, do Corinthians, Gerson, do São Paulo e Tostão do Cruzeiro. Como fazer para colocar todos no mesmo time? Zagallo deu um jeito.

Entre os participantes de 70, tivemos muitas novidades. El Salvador, Marrocos e Israel disputavam sua primeira Copa. Israel foi beneficiado por algumas desistências, já que muitos países tinham divergências políticas com eles. Já El Salvador protagonizou a famosa Guerra do Futebol com Honduras, transformando a disputa em campo literalmente numa guerra entre os exércitos dos dois países.

Dentre os ausentes estavam nomes como França, Portugal, Argentina, Hungria e Espanha.
Na organização, houve dois destaques: a primeira foi a transmissão em cores dos jogos para a Europa. O Brasil, pela primeira vez, poderia assistir as partidas ao vivo, porém, em preto e branco.

Pela primeira vez, foram permitidas substituições de jogadores durante a partida, além da introdução dos cartões amarelo (advertência) e vermelho (expulsão). E mesmo com o forte calor de algumas partidas sendo realizadas ao meio-dia, a Copa teve jogos memoráveis.

Na primeira fase, México e União Soviética avançaram no Grupo 1, deixando fora Bélgica e El Salvador.
No Grupo 2, a disputa entre Itália, Uruguai e Suécia foi forte, mas os suecos fizeram companhia aos israelenses entre os desclassificados.

No grupo 4, a Alemanha, do jovem promissor Beckenbauer foi 100%. O Peru, treinado pelo brasileiro Didi foi o segundo. Marrocos e Bulgária deram adeus.

Já o Brasil ficou no Grupo 3, com Tchecoslováquia, a campeã do mundo Inglaterra, e a Romênia.
Na estreia contra os tchecos, o Brasil saiu perdendo com gol marcado por Petras, mas virou o placar em grande estilo, com Rivellino, Pelé e Jairzinho duas vezes: 4 a 1.

Nesse jogo, Pelé fez o primeiro de seus quatro lances que ficariam para a história. Do centro do campo, ele viu o goleiro Viktor adiantado e chutou. Desesperadamente Viktor voltou para defender, mas não conseguiu. Para azar de Pelé e sorte do goleiro, o destino fez a bola caprichosamente sair rente a trave. Até o jogo o lance é conhecido como “o gol que Pelé não fez”.



Na segunda partida, o esperado duelo contra a Inglaterra. Foi um jogo difícil, duro, mas o Brasil foi melhor e com Jairzinho, venceu por 1 a 0. Neste jogo, foi realizada a defesa mais espetacular de todos os tempos. Um cruzamento de Jairzinho da direita encontrou Pelé na área. O camisa 10 subiu muito alto e cabeceou para o chão, mas Banks, goleiro inglês defendeu, mandando a bola por cima do travessão, num efeito incrível.


Na rodada final, o Brasil encarou a Romênia com alguns desfalques e num placar apertado, venceu por 3 a 2, terminando em primeiro.




O mata-mata começou com o Uruguai, na prorrogação, vencendo a União Soviética por 1 a 0, com gol marcado no último minuto.

A Itália não teve pena do time da casa e fez 4 a 1 no México. A Alemanha enfrentou a Inglaterra, na revanche de 66. Desta vez, sem a interferência da arbitragem, venceu na prorrogação por 3 a 2.

O Brasil enfrentou o Peru, rival conhecido da América do Sul e também por seu treinador, Didi. Em campo, mesmo tendo a melhor geração de todos os tempos, os peruanos não foram páreos e perderam por 4 a 2.



As duas semifinais foram maravilhosas. Na primeira, Itália e Alemanha fizeram um dos jogos mais emocionantes de todos os tempos. Logo aos 7 minutos, Boninsegna fez 1 a 0 para os italianos. No último minuto do tempo normal, a Alemanha empatou com Schnellinger e forçou a prorrogação.


Fisicamente a Alemanha foi para a prorrogação acabada. Beckenbauer era a imagem disso, ao jogar o tempo extra com a cravicula quebrada e o ombro esquerdo imobilizado, já que as duas substituições já haviam sido feitas.

Mesmo assim, os alemães saíram na frente com Gerd Muller (2-1) aos cinco. Três minutos depois, Burgnich empatou. Aos 13 do primeiro tempo, Riva fez 3 a 2 para a Itália. Na segunda etapa, com cinco minutos, Muller voltou a marcar e empatou novamente para a Alemanha, mas dois minutos depois, Rivera fez o gol decisivo. A Alemanha não conseguiu reagir.

Em uma das histórias mais famosas desse dia, conta-se que em uma delegacia no México, os policiais ficaram tão entusiasmados com a partida, que os presos conseguiram fugir sem ser percebidos.


No outro jogo, Brasil e Uruguai voltavam a se encontrar pela primeira vez em Copas desde 50. E quis o destino que o jogo fosse no mesmo dia: 17 de Junho. Temendo que o fantasma do Maracanazzo voltasse 20 anos depois, o Brasil foi cauteloso no começo e pagou caro, levando o gol de Cubilla, aos 19 minutos.


Quando todos pareciam temer pelo pior, o time Brasileiro mostrou porque era o melhor. No último minuto do primeiro tempo, Clodoaldo fez uma jogada espetacular e finalizou para empatar.

Na segunda etapa, o Brasil voltou mais tranquilo e dominou. Aos 31, Jairzinho fez 2 a 1, invertendo o que aconteceu em 50.

Outro que deu show nesse dia foi Pelé. Vencendo o jogo, o Rei do Futebol fez mais duas jogadas que entraram para a história. Na primeira jogada, o goleiro Mazurkiewicz bateu o tiro de meta rasante e, da intermediaria, Pelé pegou de primeira. O goleiro voltou como um gato para defender o chute que ia para o gol.

Pouco depois, Pelé recebeu na entrada da área um lançamento de Tostão. Ao invés de tentar o domínio, Pelé fez o corta luz e enganando o goleiro, que ficou sem ação. Pelé seguiu na jogada e chutou desequilibrado para o gol. A bola atravessou a meta e saiu raspando a trave. Uma pena.

Para fechar a conta, Rivellino fez aos 43 o terceiro, espantando de vez o fantasma de 1950.


Com Brasil e Itália na final, era certo que o mundo conheceria seu primeiro tricampeão. Assim, a Taça Jules Rimet seria definitivamente de um dos dois.

E o resto da história, o torcedor já conhece. Pelé de cabeça fez 1 a 0, mas Boninsegna empatou. Na segunda etapa, Gerson, Jairzinho e Carlos Alberto deram o tri ao Brasil e a Taça Jules Rimet.




Craques da Copa



A Copa de 70 teve muitos craques. Pelé, Rivellino, Gérson, Tostão, Beckenbauer, Banks, Riva, Boninsegna... Mas ninguém foi mais espetacular que Gerd Muller. O Alemão marcou 10 gols em seis jogos, se aproximando do recorde de Fontaine e atingindo uma marca que nunca mais foi vista em Copas do Mundo.

Muller nasceu em Nordingen, em 1945, chegando ao México com 24 anos. Muller se tornou um dos maiores artilheiros dos anos 60 e 70.

Pelo Bayern de Munique, fez 566 gols em 607 jogos. Pela seleção, foram 68 em 62 jogos.

Deste 68, 14 foram em Copas. Ele disputou apenas duas. Em 70, foi o grande artilheiro marcando 10 tentos. Em 1974, jogando em casa, ele fez só quatro. Mas quatro gols marcantes. O último deles, sem dúvida, foi o mais importante de sua vida: além de ser seus 14º em mundiais, colocando-o como o maior artilheiro de todos os tempos, foi o que deu o título para a Alemanha contra a Holanda.

Em 2006, Muller teve seu recorde de 14 gols superado por Ronaldo e agora, em 2014, ele pode perder para Klose o posto de maior artilheiro da Alemanha em Copas e em todos os tempos.

Ambos estão empatados com os 14 gols em Copas e 68 na história.

Quiz da Copa

Falando em artilheiros, a pergunta de hoje é a seguinte: Qual país teve mais artilheiros de uma Copa em toda a história?

Ainda sobre artilheiros, vamos listar quais são os maiores artilheiros de todos os tempos em Copas? Vamos aos que marcaram mais de 10 gols somando todas as Copas.


Grzegorz Lato (Poland)Teofilo Cubillas (Peru)Rahn (Germany) (Deutschland 1954)
Gary Lineker (Group F - England)Gabriel Omar Batistuta (ARG)

10 gols – A lista começa com cinco atletas dividindo o posto com 10 gols marcados.

O polonês Lato marcou seus gols nas Copas de 74, 78 e 82.

O Peruano Cubillas precisou de duas Copas (70 e 78) para marcar seus gols. 

Na lista também aparecem o alemão Rahn, das Copas de 54 e 58 e único campeão dessa lista, além do Inglês Lineker, artilheiro de 86 e que também jogou 90, e o argentino Batistuta, o Batigol, que jogou as Copas de 94, 98 e 2002.


11 gols - Dois atletas aparecem com 11 gols. O Alemão Klinsmann e o Hungaro Kocsis.
Por quatro anos Kocsis teve o recorde de maior artilheiro de uma Copa, com os 11 gols em 1954, tomado na Copa seguinte por Fontaine.

Já Klinsmann dividiu seus gols por três Copas: 3 em 90, 5 em 94 e 3 em 98



12 gols  - Ah, o Rei do Futebol marcou 12 de seus mais de mil gols em Copas. Pelé jogou quatro Copas e marcou gols em todas elas. Em 58, no primeiro título, fez seis gols e foi o vice-artilheiro. Em 62, Pelé atuou apenas em um jogo, mas mesmo assim, deixou o seu.

Em 66, Pelé também jogou pouco e anotou só um gol, contra a Bulgária. Finalmente, em 70, ele desencantou, marcando quatro gols, um deles na final.



13 gols – No capítulo 2 falamos de Fontaine. Autor de 13 gols em uma única Copa, a de 58. Ele é até hoje o jogador que mais marcou gols em uma única Copa.


Gerd Muller (W. Germany)Miroslav Klose (Deutschland)

14 gols – Muller e Klose dividem o posto. Acima falamos de Gerd Muller e de sua marca em 70 e 74. Já Klose de destacou em três Copas: 2002, 2006 e 2010. Ainda em atividade, ele pode superar sua marca agora em 2014.


Ronaldo (BRA)Ronaldo (Brasil)Ronaldo (Brasil)

15 gols – O fenômeno Ronaldo é o maior artilheiro de todas as Copas. Em 1994, ele ficou só no banco, mas em 98 já foi a estrela do Brasil, marcando quatro gols na França, onde ficou marcado pela convulsão antes da final. Em 2002, após duas cirurgias, foi desacreditado para a Copa e marcou nove gols, sendo dois na final, contra a Alemanha e terminando-a como artilheiro.

Em 2006, foram só dois gols. O primeiro, um golaço contra o Japão. O segundo e seu décimo  quinto foi bem ao seu estilo, contra Gana. Pena que não deu para ele fazer mais.


***

E a resposta do nosso quiz, já sabe? Qual país teve mais artilheiros de uma Copa em toda a história?

A resposta é o Brasil. A seleção canarinho teve cinco artilheiros em quatro Copas. 


Leonidas (Brazil) (Italia 1938)

Leonidas, em 38, com 7 gols, foi o primeiro.


Ademir (Brazil) (Uruguay 1950)

Em 50, Ademir com 9 foi o segundo. 


Garrincha (Brazil) (Brasil 1962)

Já em 62, Garrincha e Vavá, com quatro gols estiveram entre os goleadores daquela Copa, junto com outros quatro.



Por fim, em 2002, após 40 anos, o Brasil voltou a ter o artilheiro, com os nove gols de Ronaldo, igualando a marca de Ademir com mais gols em uma única Copa.

A Alemanha vem em segundo com 3 artilheiros. Itália, Hungria, Tchecoslováquia, Argentina tem dois. Como a Rússia, para a FIFA, herdou os resultados da União Soviética, ela também entra nesse time. Veja quem foi o artilheiro em cada Copa.

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